Ciência
é feita por pessoas. Pessoas dedicadas e corajosas. Pessoas
que encaram os desafios do desconhecido. Buscam soluções.
Utilizam de seu conhecimento, adquirido com esforço de
muitos anos de trabalho e estudo, para descobrir novas coisas,
novos caminhos. Tudo em prol do bem estar comum, da sobrevivência
da raça humana nesse planeta. Trabalham na essência
da frase: “Só aqueles que se arriscam a ir mais longe
saberão até aonde podem chegar!”. São
heróis anônimos, escondidos por pilhas de papéis,
experimentos e falta de interesse da mídia por boas notícias.
Verdadeiros cientistas são aqueles que fazem exatamente
isso. Não criticam. Fazem a sua parte. Costumam ser tímidos.
Concentrados no seu trabalho. Acreditam no que fazem. Fazem com
competência. Sabem e reconhecem a importância, não
só da sua contribuição, mas têm também
a ética de respeitar o trabalho e dedicação
de outras pessoas e companheiros de profissão.
Muitas vezes, além do trabalho de pesquisa, também
ensinam. São professores. Aqueles indivíduos tão
importantes na vida de todos nós. Quem não se lembra
de um professor na vida? Professores são responsáveis
pelos nossos jovens, pelo nosso futuro. Todos nós somos,
em certo sentido. Mas eles é que estão, dia após
dia, dando o melhor de si para formar as novas gerações.
Apesar de tudo. Apesar do quase “descaso” das autoridades
pela atividade do magistério, tão essencial para
o desenvolvimento do País.
Durante ocasião da montagem da Missão Centenário
da Agência Espacial Brasileira, foram selecionados sete
projetos científicos de instituições de pesquisa
e universidades brasileiras. Os experimentos seriam executados
a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).
Os primeiros experimentos brasileiros a serem realizados naquele
magnífico e único laboratório espacial. O
desafio era enorme. O ambiente de microgravidade existente na
ISS é um campo novo no Brasil. Conforme já demonstrado
por todos os países já mais desenvolvidos na pesquisa
espacial, a realização de experimentos no espaço,
em ambiente de microgravidade, é um campo extremamente
interessante e lucrativo para o desenvolvimento de inúmeras
áreas de pesquisa. Novos materiais, medicamentos, ciência
básica, e tantas outras possibilidades. Tudo muito bom,
mas as dificuldades proporcionalmente grandes. Colocar qualquer
experimento ou equipamento dentro da ISS é um processo
pautado por inúmeros requisitos de segurança e engenharia.
Todos os 16 países participantes têm, de certa forma,
que aprovar cada detalhe desse processo. Eu tenho trabalhado nesse
programa por mais de oito anos. Conheço bem essas dificuldades,
e sei que países desenvolvidos como França e Alemanha
demoram, na maioria dos casos, anos para desenvolver seus experimentos,
testá-los, demonstrarem todos os requisitos e obterem aprovação
de embarque na espaçonave.
Nossos cientistas, brasileiros dos quais eu tenho muito orgulho,
conseguiram fazer tudo isso em seis meses! E não eram experimentos
simples em concepção e construção.
Passaram em todos os testes e requisitos. Foram extremamente elogiados
pelos russos e americanos por sua competência e dedicação.
Passaram muitas noites e finais de semana trabalhando. Sacrificaram
convívio com a família e momentos de lazer. Tudo
pelo Brasil. Tudo porque são profissionais. Tudo porque
são “cientistas de verdade”.
A imprensa não tomou conhecimento. Preferiu divulgar as
palavras dos seus companheiros de profissão que se dedicam
à atividade da crítica. Mas o trabalho de verdade,
sem o qual nenhuma crítica pode ser feita, foi realizado
apenas por aqueles pioneiros, cientistas que encararam o desafio
de ser verdadeiros profissionais da ciência.
A esses verdadeiros cientistas brasileiros eu elogio aqui, publicamente,
pela sua coragem, dedicação, ética, competência
e amor pelo Brasil. Tenho muito orgulho de poder ter sido suas
mãos e olhos no espaço, executando seus experimentos
na ISS, durante a Missão Centenário.
O resultado final de seu trabalho será apresentado no mês
que vem, nos dias 21 e 22 de novembro, durante um seminário
que está sendo organizado pela Agência Espacial Brasileira.
O evento acontecerá em São José dos Campos
e terá como objetivos, não só a apresentação
dos resultados dos experimentos executados, mas também
dos futuros desenvolvimentos a partir dos mesmos, assim como discussões
sobre o direcionamento da área de pesquisas em microgravidade
no País.
Eu estarei lá! Vale a pena conferir.
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